Ao apoiar o tronco sobre o parapeito da janela do seu apartamento, no quinto andar, Aldo deitou o olhar sobre a rua lá embaixo, tomada de pessoas a irem para todas as direções e virem de todos os lados. Nenhum rosto lhe era familiar: uma multidão de anônimos, que Aldo acompanhava com os olhos. Aqui e ali, ora um, ora outro, ele selecionava, em meio à multidão, um alvo para o qual apontava o revólver que trazia na mão direita. Primeiro, mirou uma mulher que caminhava com uma criança ao colo, mas, mal tinha lhes apontado a arma, perdeu-as de vista. Depois, seu alvo foi um jovem com ar de parvo, com um boné virado para trás sobre a cabeça, que caminhava apressado por entre aquele mar de gente, que por fim também acabou por engoli-lo, fazendo-o sumir do alcance do olhar e da mira do revólver de Aldo. Estes então foram ao encontro da figura de uma senhora, bastante idosa, que caminhava pé ante pé, com uma bolsa pendurada ao braço. A velha senhora parou em um ponto da calçada, em frente ao cruzamento, a fim de aguardar a abertura do sinal para os pedestres. Enquanto esperava, ela olhou ao seu redor e para o céu, seguindo à risca o velho hábito de conferir se o tempo ia bem ou se haveria risco de chuva para dali a mais tarde.
Nisso, seus olhos encontraram-se com os de Aldo e, logo em seguida, com a arma que ele empunhava, a mirar-lhe bem no meio da tes
Créc!
Ouviu-se um clique partindo da arma e depois
Créc!
outro e
Créc!
mais outro: Aldo tentava atirar, sem êxito. O revólver insistia em falhar.
Acreditando que, ao sacudir a arma, na vã tentativa de dispará-la, Aldo estava a acenar para ela, a velha senhora retornou um gentil aceno para ele. Ao fazê-lo, ela trazia no rosto o esboço de um sorriso terno e doce como o de um bebê.
Bam!
O revólver enfim disparou.
No mesmo instante, o sinal do cruzamento abriu, e as pessoas que ali esperavam seguiram adiante.