A vida dela era ali, em meio a suntuosas lojas de grifes internacionais, com seus letreiros dourados, sempre repletas das mais caras mercadorias, frequentadas por gente que, ao que sempre lhe parecera, tinha dinheiro de sobra, pois pagavam com gosto – sorrindo para as vendedoras e vendedores, que sorriram em resposta, ou vice-versa –, vultosas quantias pelas bolsas, sapatos, camisas, tênis, bolsas, cosméticos, bolsas, tudo meticulosamente exposto em vitrines glamurosas.A vida dela era ali, durante o dia, enquanto cumpria sua jornada de faxineira naquele luxuoso shopping center de um bairro tido por nobre da cidade de São Paulo.

Quando chegava à sua casa, onde morava ela mais o marido, já tarde da noite, depois de enfrentar mais de duas horas de trânsito e aperto no ônibus que tinha de tomar diariamente para ir e voltar do trabalho, a vida dela era bem diferente: na sua casa, apesar de seu marido ignorá-la, ela não era de todo invisível, tal como ocorria no shopping, pois a televisão estava sempre ligada à sua frente, a olhá-la, iluminando-a.

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