Sentavam-se à mesa para jantar sempre no mesmo horário, por volta das sete da noite. Como de hábito, ele a acomodava sentada na cadeira, no lado oposto ao dele, na pequena mesa redonda, e servia, ele mesmo, o jantar para os dois.

Invariavelmente, era servido algo muito leve, frugal: uma sopa e alguns pães, para as noites mais frias; legumes cozidos e alguma carne grelhada, para aquelas mais quentes. Para acompanhar a comida, água natural.

Enquanto comia, Pedro ia contando de seu dia a Helena, que a tudo ouvia sem dizer uma palavra.

O jantar todo não demorava mais que uns quarenta minutos e, uma vez finalizado, Pedro retirava a mesa, levando pratos, talheres e tigelas para a cozinha, onde punha-os sobre a pia e, em dez minutos, no máximo, tinha-os todos lavados e secos, prontos para o uso novamente.

Pedro então retornava à mesa do jantar, tomava Helena em seus braços

(como na nossa lua de mel, lembra-se?)

e a levava para o sofá da sala, onde, diante da televisão ligada em alguma novela, noticiário ou mesmo algum filme, ficavam até o sono chegar. E quando este vinha, Pedro desligava a televisão e dormia ali mesmo no sofá, na companhia de Helena.

Na escuridão de sua voz, as noites sempre vinham contar a Pedro, sob a forma de sonhos e pesadelos, as mais variadas histórias. Numa dessas, Pedro e Helena estavam diante do altar, cercados de padrinhos e madrinhas, elegantemente vestidos para aquela ocasião. À sua frente, um padre lhes indagava:

– Pedro, aceita Helena como sua esposa?

No que Pedro, em sonho, respondeu:

– Sim.

Em seguida, o padre perguntou a Helena:

– Aceita Pedro como seu esposo?

E daí seguiu-se um enorme silêncio, que só foi quebrado pelo barulho de alguém batendo à porta da sala.

Pedro acordou e, ainda meio zonzo de sono e sentindo a boca amarga, levantou-se, foi até a porta e a abriu.

Do lado de fora, um entregador trazia nas mãos uma grande caixa de papelão. Pedro assinou o recibo de entrega e, após despedir-se do entregador e lhe agradecer, voltou para dentro de casa.

Aproveitando que Helena ainda dormia sobre o sofá, dirigiu-se para o quarto, onde, ansioso e com um sorriso no rosto, abriu a caixa.

Pedro veio às lágrimas de alegria quando, dali de dentro daquela grande caixa de papelão, viu surgir Rita, sua mais nova esposa inflável, novinha em folha.

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