Era-lhe quase impossível precisar há quanto tempo estava a esperar, se horas, dias, quem sabe até mais. Para Lúcia, o tempo parecia um contínuo infinito, denso e viscoso, que, como o ponteiro de um relógio que parou de funcionar, prendia-a num quadrante fixo, no qual passado, presente e futuro pareciam iguais na sua completa ausência de perspectiva.

Com os olhos, fixos, a mirar o vazio, ela aguardava uma ligação no telefone que repousava sobre uma pequena mesa, ao lado da cabeceira da cama onde se encontrava deitada. Não a sua cama, propriamente, mas a de um hotel barato no centro da cidade. Da janela do quarto, sempre aberta, ora chegava a luz do sol, ora as luzes da noite, embora, para ela, ali dentro, a escuridão fosse permanente.

Desde que chegara ali, Lúcia não trocou uma peça de roupa e quase não se alimentou. Sua pele estava amarelada, assim como seus olhos. O quarto cheirava mal.

Quando o telefone finalmente tocou, ela atendeu e, do outro lado da linha, ouviu alguém lhe perguntar:

– Quem te espera?

Sem saber o que responder diante da pergunta que lhe pareceu demasiadamente inusitada, restou-lhe apenas desligar o telefone de pronto, sem nem ao menos querer saber quem perguntara.

Levantou-se para ir ao banheiro e, logo depois, retornou para a cama, onde novamente se deitou e ficou em silêncio a mirar fixamente o vazio com seus olhos. Naquele momento, as luzes da noite entravam pela janela, trazendo junto com elas o lúgubre aroma da escuridão.

Lúcia tinha esperança de que o telefone voltaria a tocar e, não tendo quem a esperasse, continuou ali deitada, sozinha, esperando.

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