
Ela subiu ao palco, Divina, em seu longo de cetim grená. E de lá, com sua voz de contralto, Puxou um coro alto, pondo todos com ela a cantar. A emoção tomou a todos de assalto. E para evitar que … Continuar lendo
Ela subiu ao palco, Divina, em seu longo de cetim grená. E de lá, com sua voz de contralto, Puxou um coro alto, pondo todos com ela a cantar. A emoção tomou a todos de assalto. E para evitar que … Continuar lendo
Não há dor que eu sinta que não me ponha triste. Não há tristeza – mesmo que eu minta – que não me cause dor. Quando apontaste para mim aquele dedo em riste, Vi em tal gesto o fim de … Continuar lendo
Na ingenuidade da minha infância, a maior tristeza que eu então podia conceber era ver um balão de gás de minha mão se desprender e pelo céu se escafeder – um pontinho, depois desaparecer. Era algo realmente muito triste de … Continuar lendo
Dorotéia, vulgo Dona Dodó, Era uma senhora de meia idade, baixa estatura: quase uma garnizé. Humilde viúva que morava só. Beata de muita fé, Mas louca de dar dó. Saia todos os dias de casa e ia rezar, na Sé, … Continuar lendo
A Alma brigou com o Corpo, pois descobriu que ele a traira com uma outra alma qualquer. “Como pôde ser tão desalmado! – disse-lhe Alma e, indignada, completou: “Traição tal não poderei tolerar, teremos de nos separar!” No mesmo dia, … Continuar lendo
Toninho era um garoto cheio de imaginação e, também, muito levado. Certa vez, despertado por uma canção de ninar, Passou o dia todo sonhando acordado. Sonhou… Que voava alto, no céu, sustentado apenas por um enorme balão de bolha de … Continuar lendo
Recordo-me exatamente do texto do cartão que, dentro de um envelope, colado ao papel crepom que embalava o presente, entreguei a você nesta mesma data há exatamente um ano, mas não consigo me lembrar do presente em si, Talvez por … Continuar lendo
Sim, eu notei sua chegada. Com efeito, não o tinha visto partir. Vendo-o mais claramente, recuperado finalmente da torpeza que me causara a sua entrada de surpresa, eu diria que este homem que há pouco voltou e aquele que partira … Continuar lendo
Tenho uma pergunta para você, ela disse, enquanto se preparava para sair: a saia, a blusa, o salto, o batom, nada destoava naquele arranjo todo combinadinho de cores pastéis. (a coerência é uma prisão) – Eu gostaria que você (ela) … Continuar lendo
Sentada à frente do balcão da padaria, enquanto tomava seu primeiro café expresso daquela manhã, ela notava, depositados sobre si, os olhares de estranhamento dos demais fregueses ao redor. De rabo de ouvido, ainda conseguia captar um ou outro comentário … Continuar lendo
Somente quando percebi quão solitária estava a minha escova de dentes, que ocupava apenas um dos dois orifícios do porta-escovas ali sobre a pia do lavabo, foi que os fatos do dia anterior despertaram-me como se um balde d’água fria … Continuar lendo
Eram cinco reis, todos de pé, um ao lado do outro, altivos, a darem ordens em voz alta para súditos imaginários. Magnânimos em sua impotência. ************************************** Juraram nunca mais se ver, embora dividissem o mesmo cubículo no trabalho. A palavra … Continuar lendo
Ela morreu no início da tarde, vítima de um atropelamento, enquanto atravessava a rua e digitava ao mesmo tempo no celular. O motorista do carro fugiu sem prestar socorro. A ambulância demorou a chegar, devido ao trânsito, e quando enfim chegou, já era tarde demais.No exato instante em que a alma dela deixou seu corpo, o post que ela fizera no Facebook pela manhã contabilizava 43 curtidas. O tal post trazia, tendo por legenda um “bom dia”, uma fotografia tirada das escadas rolantes da estação Pinheiros, tomadas da habitual multidão de anônimos subindo e descendo. Ao fundo, na própria foto, aparecia um telão de mídia eletrônica, no qual era possível ler a notícia de que um jogador brasileiro tinha sido negociado por alguns milhões de Euros para um certo clube europeu de futebol.
Uma amiga dela de Facebook estava no meio daquela multidão e saíra na foto: era possível identificar seu rosto em meio aos demais rostos cansados, já àquela hora da manhã, que desciam por uma das muitas escadas rolantes daquela estação de trens e metrô. Essa amiga dela curtiu o post, mesmo não reconhecendo a si mesma retratada na foto, e respondeu, nos comentários, com um “bom dia”, seguido de um coraçãozinho. Era o último dos 7 comentários que aquele post recebia. Todos os outros também diziam “bom dia” e tinham sido respondidos e curtidos pela autora do post, mas como esta já tinha falecido quando a amiga comentou, o comentário desta ficou sem curtida e, claro, também sem nenhuma resposta. A tal amiga, ao notar o tratamento diferenciado, tomou isso pelo lado pessoal, entendeu como uma desfeita e excluiu a recém-falecida dos seus amigos do Face.