A mesa de jantar, no centro da sala ao lado da cozinha, costumava receber a família para as refeições do dia a dia: pai, mãe e três filhos sentavam-se ao seu redor, e ali tomavam os cafés da manhã, almoçavam e jantavam.
Depois de preparar as refeições, a mãe punha a mesa estendendo sobre ela uma toalha com motivos florais, sobre a qual dispunha os pratos, os talheres e os guardanapos. Finalizava a arrumação com a colocação dos alimentos.
Depois de terminarem de comer, saíam todos da mesa para cuidar de outros assuntos, enquanto a mãe ficava ali, afinal era ela a encarregada única de terminar de lavar a louça, secar e guardar, num ciclo que se repetia ao menos três vezes ao dia, todos os dias da semana. Além de cuidar das refeições, era a mãe que cuidava da limpeza da casa, das roupas, das compras do mês, da educação dos filhos, cumprindo assim uma jornada de trabalho que não tinha intervalo. Era a primeira a acordar e a última a ir dormir.
Com o passar dos anos, os filhos foram crescendo e, aos poucos, indo embora da casa dos pais. Formaram-se, casaram-se e se foram. A casa foi ficando vazia.
Quando o pai faleceu, a mãe ficou morando sozinha naquela casa que, antes tão pequena, parecia ter se tornado maior com o tempo, fazendo ainda mais presentes as ausências que a vida e a morte trouxeram ao longo dos anos.
Mesmo sem ter ninguém mais a quem cuidar senão ela mesma, a mãe continua a agir como se a casa estivesse cheia, como de fato fora outrora. Prepara as refeições, põe a mesa, lava a louça, limpa a casa, lava as roupas, faz as compras do mês, procura se manter ocupada.
Todavia, sem ter mais a quem servir, não vê sentido para sua vida.