Avó, mãe, esposa e filha: as quatro gerações femininas de uma mesma família de pardais aguardavam, pousadas uma ao lado da outra, à maneira de matrioskas, sobre um confuso emaranhado de fios do sistema de iluminação pública, bem em frente à delegacia de polícia. Estavam ali desde o mais tenro raiar do dia, aflitas por notícias de Pedro, o jovem pardal, neto da avó, filho da mãe, marido da esposa e pai da filha, que durante a madrugada fora trazido para aquele lugar, dentro do que elas não sabiam dizer se era uma gaiola ou um alçapão.Já quase enfim anoitecia, quando o delegado saiu da delegacia, em mangas de camisa, e foi dar a elas satisfação sobre o paradeiro do jovem pássaro. O delegado estava encharcado de suor, parecia angustiado, o que logo foi percebido pelas pardais como um sinal de que ele era portador de má notícia.

E foi de fato. 

Entre pios de tristeza, dolorosos de se ouvir, o delegado foi-lhes contando que Pedro morrera nas garras de um conhecido criminoso daquelas bandas.

– Quem matou meu filho? 

perguntou a avó.

– Não pode ser!

exclamou a mãe.

– O quê!?

indagou uma incrédula esposa.

Sem entender o que se passava ali, a filha apenas chorapiava, debaixo das asas da sua mãe, a esposa de Pedro, tornada então viúva.

Olhando-as firmes, como um estilingue prestes a atirar, o delegado, friamente, disparou

– Pedro morreu nas garras de Estado.

Este era o nome do assassino, praticante de crimes que passavam sempre impunes: um gato dado a maldades inomináveis com a vulnerável população de pardais.

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