No açougue, a primeira cliente do dia chega, puxando pela mão direita um carrinho de feira, vazio. Já diante do balcão, pede ao açougueiro:– Um quilo de qualquer coisa moída, por favor.
O açougueiro vira-se para ela e responde:
– Qualquer coisa não tem. Tem cochão mole, acém, filé mignon.
Ela pensa por alguns instantes e, em seguida, responde:
– Me vê então dois quilos do mais barato moído.
– Dona Mirtes
(esse era o nome dela)
– vou moer pra senhora dois quilos de patinho.
O açougueiro propõe.
– Está bem.
Ela responde.
Pouco depois, Dona Mirtes é vista saindo do açougue levando, dentro do carrinho de feira, um pacote de dois quilos de carne moída.
Ao chegar em casa, seus 20 gatos vieram recebê-la, entrelaçando-se por entre as pernas dela e miando alto de ansiedade: sabiam que aquela carne moída ela para eles.
Ela criava aqueles gatos para, com a carne deles, alimentar as piranhas que ela criava em um aquário, exposto na estante da sala, ao lado de uma imagem da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.